Autor: Danillo Ferreira em agosto 22, 2013
Algumas vezes percebo que nós, policiais, somos inseridos em uma atmosfera de moralismo que chega a superar a expectativa dos mais conservadores setores da sociedade. Em certos casos, assumimos o discurso daqueles que tanto criticamos, mas contra os quais só conseguimos nos opor quando os ataques são direcionados declaradamente aos próprios policiais. É difícil entender (ou não) como conseguimos ser tão lúcidos e racionais na defesa de questões progressistas que dizem respeito às nossas carreiras, valorização profissional etc, ao tempo em que somos reacionários em questões que nos tangenciam de modo menos explícito.
Vejo um policial ser extremamente engajado na projeção de um novo modelo de polícia para o Brasil, mas não consegue perceber, por exemplo, o quanto é cristalina a hipocrisia vigente no campo da política de drogas no país. Num contexto em que milhares morrem com a liberalidade não regulada do álcool e outros milhares morrem com a repressão bélica às demais drogas, há quem consiga afirmar que está tudo em ordem, e que precisamos de mais armas e mais repressão à produção, consumo e comercialização das drogas hoje ilícitas.
Será que o mecanismo cognitivo que nos garante tanta racionalidade em algumas áreas não pode ser utilizado na análise de outras questões? E olha que, na questão das drogas, temos um efeito diretamente nocivo aos policiais: o aumento de confrontos e consequente morte de companheiros. É por acreditar que isto é possível que permanecemos discutindo o tema aqui. Vejam a foto abaixo:
Policiais distribuem Doritos em festa da Maconha
Este policial sorridente atuava na “Hempfest”, em Seattle, EUA, uma festa caracterizada pelo uso de maconha – que teve a posse legalizada no estado. O que ele fazia ali? Entregava salgadinhos (Doritos) com uma tarjeta dizendo o seguinte: “Não dirija depois de fumar” , “Não forneça o cigarro à menores de 21 anos” e “É permitido escutar Dark Side of The Moon em um volume razoável”. Sim, a polícia fez uma campanha conscientizadora para os consumidores da erva, visando evitar possíveis danos causados pelo consumo. Por aqui, o filme Tropa de Elite nos dá ideia do contexto que criamos para tratar o consumo:
Modificar a política de drogas no Brasil é essencial para poupar a energia que as polícias poderiam utilizar para questões essencialmente policiais.
PS: Me tornei Porta Voz da Law Enforcement Against Prohibition (LEAP) no Brasil. Convido a todos os colegas policiais a visitarem a página da LEAP (www.leapbrasil.com.br) e lerem sobre a causa da legalização da produção, do consumo e da comercialização das drogas. Ninguém mais que nós, policiais, entendemos do assunto.
fonte: fonte:http://abordagempolicial.com