quarta-feira, 27 de março de 2013

EU ENVELHECI?


Um dia desses uma jovem me perguntou como eu me sentia sobre ser velha. Levei um susto, porque eu não me vejo como uma velha. Ao notar minha reação, a garota ficou embaraçada, mas eu expliquei que era uma pergunta interessante, que pensaria a respeito e depois voltaria a falar com ela. Pensei e concluí: a velhice é um presente. Eu sou agora, provavelmente pela primeira vez na vida, a pessoa que sempre quis ser.
Oh, não meu corpo! Fico incrédula muitas vezes ao me examinar, ver as rugas, a flacidez da pele, os pneus rodeando o meu abdome, através das grossas lentes dos meus óculos, o traseiro rotundo e os seios já caídos. E constantemente examino essa pessoa velha que vive em meu espelho (e que se parece demais com minha mãe), mas não sofro muito com isso.
Não trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, e o carinho de minha família por menos cabelo branco , uma barriga mais lisa ou um bumbum mais durinho.
Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais condescendente comigo mesma, menos crítica das minhas atitudes. Tornei-me amiga de mim mesma. Não fico me censurando se quero comer um bolinho-de-chuva a mais, ou se tenho preguiça de arrumar minha cama, ou se compro um anãozinho de cimento que não necessito, mas que ficou tão lindo no meu jardim. Conquistei o direito de matar minhas vontades, de ser bagunceira, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar paciência no computador até às 4 da manhã e depois só acordar ao meio-dia?
Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos das décadas de 50, 60, 70 e se, de repente, chorar lembrando de alguma paixão daquela época, posso chorar mesmo!
Andarei pela praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulharei nas ondas e darei pulinhos se quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros. Eles, também, se conseguirem, envelhecerão.
Sei que ando esquecendo muita coisa, o que é bom para se poder perdoar. Mas, pensando bem, há muitos fatos na vida que merecem ser esquecidos. E das coisas importantes, eu me recordo freqüentemente. Certo, ao longo dos anos meu coração sofreu muito.
Como não sofrer se você perde um grande amor, ou quando uma criança sofre, ou quando um animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão a força, a compreensão e nos ensinam a compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser forte, apesar de imperfeito.
Sou abençoada por ter vivido o suficiente para ver meu cabelo embranquecer e ainda querer tingi-los a meu bel prazer, e por ter os risos da juventude e da maturidade gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes que seus cabelos pudessem ficar prateados.
Conforme envelhecemos, fica mais fácil ser positivo. E ligar menos para o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Conquistei o direito de estar errada e não ter que dar explicações. Assim, respondendo à pergunta daquela jovem graciosa, posso afirmar: "Eu gosto de ser velha". Libertei-me!
Gosto da pessoa que me tornei. Não vou viver para sempre, mas enquanto estiver por aqui, não desperdiçarei meu tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupando com o que virá. E comerei sobremesa todos os dias e repetirei, se assim me aprouver...
E penso que nunca me sentirei só. Sou receptiva e carinhosa, e se amizades antigas teimam em partir antes de mim, outras novas, assim como você, vêm a mim buscar o que terei sempre para dar enquanto viver: EXPERIÊNCIA E MUITO AMOR!

fonte: internet
autor: desconhecido

domingo, 24 de março de 2013

Poesia: Minha Linda Santa Maria. Publicada no Diário de Santa Maria de 15.03.2013


Minha Linda Santa Maria, por: FSant'Anna


Uma fumaça negra, tomou conta de nosso peito, difícil de dissipar
Os sorrisos e conversas alegres, foram trocados por sussurros e lamentos
Desde aquela madrugada o choro não cessa, alcançando os quatro cantos da cidade
Mais de duzentas vidas inocentes ceifadas de modo banal
A culpa será apurada
A justiça será feita
Mesmo assim a sensação de impotência nos castiga os ossos
Hoje todo Santa-mariense, caminha com o passo pesado, com esse enorme carma sobre os ombros
Um sentimento de perda, de sei lá o que
Talvez por sabermos lá no fundo de nossa parcela de culpa
Culpa dos irresponsáveis, dos omissos, dos incompetentes
Quantas tragédias teremos de passar, para nos tornarmos um povo sério?
A farra acabou, a balada já não tem graça
Que agora minha linda Santa Maria, esse coração amado de nosso quinhão gaúcho, sirva de lição
Todos nós somos um pouco responsáveis, queiramos ou não
Que paremos de brincar de fiscalizar, e de cumprir regras
É o finge que cobra, e o finge que obedece
Que paremos de fingir, e de contar cadáveres
Para que um dia aquele sorriso juvenil, volte a estampar nossa terra amada

terça-feira, 19 de março de 2013

Eu pedi a Deus...

Eu pedi a Deus...
Eu pedi força...
Deus me deu dificuldades para me fazer forte.
Eu pedi sabedoria...
Deus me deu problemas para resolver.
Eu pedi prosperidade...
Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar.
Eu pedi coragem...
Deus me deu perigos para superar.
Eu pedi amor...
Deus me deu pessoas com problemas para ajudar.
Eu pedi favores...
Deus me deu oportunidades.
Eu não recebi nada do que pedi...
Mas eu recebi tudo de que precisava.


fonte: http://www.mensagensvirtuais.xpg.com.br/Religiosa/Eu-pedi-a-Deus

Carpinejar: "morri em Santa Maria"

O escritor gaúcho Fabrício Carpinejar divulgou um texto falando da tragédia em Santa Maria, intitulado "A maior tragédia de nossas vidas":
Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência. Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. Morri sufocado de tanta morte; como acordar de novo? O prédio não aterrisou da manhã, como um avião desgovernado na pista. A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro. Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.

Fabrício Carpinejar

Talento Sujo

Já fui taxado como um talento bruto, um talento sujo, um talento burro.
Para o primeiro busquei a razão, “A Critica da Razão Pura”, a filosofia e todos os seus Kants, Platões, Socrates, Tales, Senecas e me tornei critico. “Humano Demasiado Humano”, descobrindo que toda critica até mesmo a pura, nada mais é que Dura.
Para o segundo busquei a salvação. Ser casto. Os santos, as crenças; ser de fé. Purguei, confessei, dancei Candomblé, quis ser Católico. Deixei de ser laico, virei arcaico e descobri ser Caótico.
Para o terceiro li e reli, fadiguei a vista, gastei a vida. Rondéis, acrósticos, artigos, cartas e carretéis; cirandas e contos; vinho tinto, livros e cronicas. Casimiros de Abreu, Machados de Assis, em minha cabeça uma bomba atômica.
Por fim já não era bruto, sujo e burro, já não era um talento.
Autor: FSantanna

A arte de Ser Feliz, de Cecília Meirelles

Houve um tempo em que minha janela se abria
Sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
E o jardim parecia morto.
Mas, todas as manhãs, vinha um pobre com um balde,
E, em silencio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caiam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Ás vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro as nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com os pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me aprecem personagens de Lope de Veiga.
As vezes, um galo canta.
As vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
Que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
Outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
Finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


Cecília Meirelles