quinta-feira, 13 de março de 2014

Carta de um policial medíocre


Por Danillo Ferreira


A polícia pra mim é um emprego. Nada mais nada menos que isso. Só quero trabalhar as horas que sou obrigado a trabalhar e pronto, ir para casa e fazer o que é meu. Durante o serviço evito esforço: quanto menos problema arranjar, melhor.

Tenho colegas que são tirados a “operacionais”, se espelham no Capitão Nascimento e querem resolver os problemas do mundo com tiro e tapa. Adoram paramentos, bolsas, equipamentos, spray de pimenta, munição, farda tática, blá, blá, blá.

Ingenuidade de quem assiste muito a filme de Hollywood e a esses programas de meio dia com abutres gritando por sangue e violência.

Outros colegas são filósofos do policiamento. Policiólogos. Querem porque querem conversa com a comunidade, tecnologia, administração inteligente, blá, blá, blá.

Ingenuidade de quem acha que o ser humano tem jeito e que tem sociedade sem governo mandando a polícia fazer o que ele quer que ela faça, sem questionamento nem teorias.

Sou policial para tirar o meu, com o mínimo de trabalho possível. Sou avesso a lutas políticas e a qualquer espertinho tirado a bem intencionado se proclamando líder. Só quero vender meu tempo. Geralmente minha presença em pé na rua basta. Fora isso é blá, blá, blá.

copiado de:http://abordagempolicial.com/

quinta-feira, 6 de março de 2014

Educação ou fraqueza?



O ser humano merece trato digno por parte de quem quer que seja, mormente pelo Estado, que deve ser o mantenedor dos direitos desses cidadãos, uma vez que tem suas ações guiadas por comandos constitucionais que se lastreiam em ações garantistas. Mas será que todo o povo brasileiro se permite ser tratado de forma digna?

Não é novidade afirmar que a população brasileira carece de boa educação, acesso à saúde, saneamento básico, e diversas outras obrigações do Estado. Muito por falta de tais garantias, a maioria dos cidadãos brasileiros é criada dentro de “Guetos de Varsóvia”, e para tanto se adaptam às suas realidades, criando, além de mecanismos de auto preservação, o recíproco distanciamento de seus representantes e servidores públicos. Naturalmente se ergue a imagem de um inimigo do povo, o Estado.

Dentro de seus guetos, a população vive com o pouco que tem. Aliás, sobrevive. Com tantas carências, quais são as referências de valores sociais desse povo? Com certeza são poucos os exemplos que podem ser listados. E dentre os que podem ser elencados, será que o povo conhece suas histórias? Ora, figura-se então a construção de uma sociedade sem bons exemplos de cidadania.

Os problemas que cito são condições de degradação de valores sociais, mas ainda não foram suficientes para desconstruir os valores morais de cada cidadão. Entretanto, qual seria o produto de tal relação? Qual seria o produto de um povo que, apesar de sustentado em alguns valores morais ainda remanescentes, educa o seu semelhante sem qualquer noção de cidadania? Seria uma sociedade que acerta quanto ao conteúdo e peca quanto à forma? Qualquer resposta dada aqui seria eminentemente empírica, mas os diversos relatos de pessoas inseridas em tal realidade dão conta de que os processos de educação pelos quais passaram, sejam eles de cunho familiar, escolar, dentre outros, quase sempre foram acompanhados de injúrias e agressões físicas por parte de seus “educadores”.

Observo então tal realidade no contexto da prestação do serviço de polícia ostensiva, baseado em minha experiência profissional como policial militar, e percebo que grande parcela da população das áreas carentes reage de maneira resistente em abordagens, chegando a debochar e ou desafiar o efetivo policial quando este lhes trata de maneira urbana e educada. Quase sempre há necessidade de evolução no nível de uso da força. Outrossim, vale salientar que as aversões que relato não são exclusividade das comunidades pobres, mas nesses locais elas ocorrem por razões diversas das comunidades mais abastadas, onde o cidadão também apresenta comportamentos de resistência às intervenções policiais, mas desta vez por se julgarem fora do padrão social daqueles aos quais o serviço da polícia – em seus imaginários – se destinaria.

Ao analisar tais resistências sempre me pergunto a razão de tal comportamento. Quanto às comunidades mais abastadas, não nos é forçoso identificar a motivação, uma vez que ela sempre é revelada pelos abordados, conforme já exposto. Mas quanto àqueles de regiões necessitadas? Seria a generalização do descrédito do povo para com seus servidores, ou um choque de realidade tão grande, gerada pela ausência das injúrias e agressões físicas – que sempre estiveram acostumados a suportar quando tinham contato com relações de poder – que lhes impede de reconhecer a figura do Estado em exercício do seu poder de polícia, a ponto de confundir educação com fraqueza? Qualquer que seja a resposta, somente com o fortalecimento dos valores sociais poderemos tirar a nossa sociedade do rumo da auto destruição.

fonte:http://abordagempolicial.com/2014/03/educacao-ou-fraqueza/