segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ando devagar porque já tive pressa…’ Por Antonio Jorge Ferreira Melo


Por Antonio Jorge Ferreira Melo– 9 de maio de 2013

Na última terça-feira (07), acordei pensando em um antigo provérbio judaico que nos confronta com uma pergunta no mínimo intrigante “O que é melhor: um cavalo rápido ou um cavalo lento?”
Em busca de respostas para essa indagação, lembrei-me dos versos de uma canção de Almir Sater e Renato Teixeira, intitulada “Tocando em Frente”, que condiz com muitos momentos que passamos na vida, nesta nossa pós-modernidade, em que temos muita, muita pressa para chegar.
Por falar em pressa, não é sem sentido que Erik Erikson, ao definir as “oito idades do Homem” – estágios pelos quais evoluímos e damos significado às nossas vidas, com cada estágio representando temas e dilemas específicos do viver – tipifica o oitavo e último estágio como o da integridade do ego versus desespero, pois, essa “é a época de recapitular, avaliar e aceitar suas vidas, para que assim possam aceitar a chegada da morte“.
Segundo Erikson, a virtude desta fase do ser humano é a sabedoria. A sabedoria de se compreender que pensar a vida de forma contrafactual, apegando-se ao que deveria ter sido feito, ou ao que poderia ter sido, em lugar de refletirmos sobre nossas conquistas e situações diversas vivenciadas ao longo dos anos, apenas nos impedirá de aceitar que a vida que cada um de nós vive e viveu é de nossa própria responsabilidade, nos distanciando do senso de coerência e integridade que nos protege do desespero, não raro, provocado pelo estar em contato mais imediato com a nossa finitude.
Como nos ensina Lia Luft, somos protagonistas e autores de nossos atos e omissões, de nossas escolhas e opções, das nossas audácias ou intimidações, nossa esperança e fraternidade ou nossa desconfiança, mas, também: “somos inocentes das fatalidades e dos acasos brutais que nos roubam amores, pessoas, saúde, emprego, segurança, ideais”.
Aniversário é uma palavra de origem latina que significa “aquilo que volta todos os anos”, ou seja, aquilo que se faz ou que volta todos os anos. Assim, na esteira do pensamento da renomada escritora gaúcha, somos transição, somos processo. E isso nos perturba.
Sim, temos muita pressa para chegar. Quando estamos no ventre materno temos pressa para ver e vir à luz; na infância temos pressa para aprender; adolescentes, temos pressa para descobrir e ter autoridade sobre o mundo e quando estamos na fase adulta temos pressa para adquirir; para ter, mas, aos poucos, com o tempo, a pressa vai embora, dando lugar à calma e à vontade de ter mais tempo para realizar tudo que ainda não conseguimos no tempo que nos resta. Afinal, vez por outra, nos surpreendemos no espelho, perguntando, no melhor estilo de Mário Quintana: “quem é esse que me olha e é tão mais velho do que eu?”.
Ano a ano, o fluxo de dias, semanas e meses que serve para crescer e acumular, também, nos confronta com o perder e limitar, pois, dessa perspectiva é que nos tornaremos senhores, não servos do nosso destino, portanto, devemos resolver como empregamos e saboreamos nosso tempo, que é afinal sempre o tempo presente.
Tem razão Lia Luft, pois, “quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar”. Tem razão Almir Sater: “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz e ser feliz”. Nessa lógica, voltando ao provérbio judaico, chegamos à conclusão, nestes tempos imediatistas, que o melhor deve ser um cavalo rápido. Mas, pensando bem, o tempo me ensinou que a resposta do provérbio aponta para outro raciocínio: o de que bom mesmo é um cavalo lento, pois, se num dia a gente chega, no outro vai embora, mais do que nunca, ando devagar porque já tive pressa de chegar.

fonte:http://aqueimaroupa.com.br/2013/05/09/ando-devagar-porque-ja-tive-pressa/

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